O que a conversão de Santo Agostinho tem a nos ensinar sobre nosso processo vocacional?

A vocação é um dom que Deus nos concede, é a maneira pela qual iremos servi-Lo ao longo da nossa vida adulta neste mundo.

No entanto, nem sempre é simples discernir qual é a vocação para a qual somos chamados, principalmente devido ao “barulho” do mundo e a tantas coisas que ele nos oferece.

Logo, para compreender a vocação para a qual Deus nos chamou é preciso dar espaço para que Ele fale ao nosso coração.

Foi assim na vida de Santo Agostinho. Ele teve uma vida conturbada, até que deu permissão a si mesmo para ouvir a voz de Deus.

Vamos descobrir o que a conversão de Santo Agostinho tem a nos ensinar sobre nosso processo vocacional a partir do seu testemunho de vida.

“Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava fora! Estavas comigo, mas eu não estava contigo”

Foi assim que Santo Agostinho se expressou sobre um determinado tempo de sua vida. Ele busca por algo que nem sabia ao certo o que era, até que se deu conta de que sua alma ansiava por Deus e que Ele estava mais perto do que tinha consciência: dentro de si.

Quantas vezes nós mesmo procuramos por Deus nas pessoas, nos lugares e nem nos damos conta de que Deus está dentro de nós mesmos e que é dentro do nosso interior que Ele fala conosco?!

 Santo Agostinho, durante a juventude, estudou e se tornou professor. Após lecionar por alguns anos, deixou a África, sua terra natal, para trabalhar, também como professor, em Roma, no continente europeu, e depois em Milão.

Neste período de sua vida, Agostinho, cuja mãe era uma cristã muito piedosa e o pai um nobre pagão, tinha dificuldades em aceitar o cristianismo.

Em um dado momento de sua vida ele até tentou se aproximar das Sagradas Escrituras, a leu um pouco, mas logo desanimou. Então adotou como crença o maniqueísmo, uma filosofia que divide o mundo em dois: o bem e o mal, fundado pelo filósofo heresiarca Maniqueu.

Isso causou profunda dor em sua mãe, Santa Mônica, que chorava e implorava a Deus pela conversão de seu filho.

Apesar da sua resistência em aceitar as coisas de Deus, Agostinho sentia-se triste em seu interior, e percebia que sua vida era vazia de sentidos. Sentia uma inquietação em seu coração e não conseguia encontrar a felicidade nos lugares onde a procurava.

 E é precisamente assim que se sente alguém a quem Deus cumula com uma determinada vocação, mas a pessoa teima em dar espaço para este chamado.

“Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez”

Duas pessoas foram extremamente importantes no processo de conversão de Santo Agostinho: a sua mãe e Santo Ambrósio – bispo de Milão.

Além de rezar muito pela conversão de seu filho, Santa Mônica também, sempre que tinha a oportunidade de estar com ele, o aconselhava muito. Certa vez, ela foi ao seu encontro em Milão e o convidou a frequentar as pregações de Santo Ambrósio.

Inicialmente ele resistiu, mas a força de Deus agiu e Agostinho acabou indo até Santo Ambrósio. Aos poucos, as palavras do bispo começaram a cair como pequenas sementes de fé no coração de Agostinho e logo Deus o libertou de sua cegueira espiritual.

 Esse episódio nos diz que precisamos dar atenção às vozes que tentam nos ajudar no caminho de Deus. Elas são tão necessárias, que durante o processo de discernimento vocacional é aconselhável que cada um tenha um diretor espiritual a quem recorrer. E é o diretor espiritual que nos ajuda a discernir o que Deus deseja para a nossa vida.

Certamente esse papel na vida de Santo Agostinho foi ocupado principalmente por Santo Ambrósio, além de sua mãe.

 Além disso, certa vez Agostinho meditava quando ouviu uma voz de uma criança lhe dizendo “Tolle et lege” (Toma e lê). Ele pegou as Cartas de São Paulo, onde leu: “Não é nos prazeres da vida, mas em seguir a Cristo que se encontra a felicidade”.

Neste momento, ele ouviu claramente em seu interior um chamado de Deus: “Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez”, confessou no livro que ele escreveu para narrar o seu testemunho.

Em seguida, Agostinho recebeu o batismo, como sinal de sua completa conversão e adesão ao cristianismo.

“Eu te saboreei, e agora tenho fome e sede de ti”

Ao experimentar o amor de Deus, Agostinho sente-se chamado a entregar-se inteiramente ao serviço de Deus. Vendeu todos os seus bens porque queria usar o dinheiro para construir um mosteiro em Hipona.  

E no ano 391 Agostinho foi ordenado sacerdote pelo bispo Valério e passou a viver em uma comunidade de Irmãos, como sacerdote, monge, asceta e estudioso, dando início a um novo estilo de vida religiosa, inspirada na primitiva comunidade cristã de Jerusalém, no mosteiro por ele construído.  

Em 395, ele se tornou Bispo de Hipona, passou a dedicar-se aos estudos das Sagradas Escrituras e dos Padres da Igreja, tinha a função de administrar os bens da Igreja e repartir o seu benefício entre os pobres, acolhia os peregrinos, protegia os órfãos e viúvas e cuidava dos enfermos.

Além disso, Agostinho também cuidava da formação do clero, organizava os mosteiros masculinos e femininos, para os quais escreveu a Regra de Vida, baseada no ideal dos Servos de Deus, que previa estudos, exigia a castidade e a autêntica pobreza.

Santo Agostinho faleceu em 28 de agosto de 430, aos 75 anos.

Seu testemunho de vida nos diz que nunca é tarde para darmos vazão à voz de Deus e aceitar os Seus planos divinos. E que quando nos abrimos verdadeiramente para a vocação à que somos chamados, é que verdadeiramente encontramos a felicidade e que Deus opera maravilhas por meio de nós.

Aqueles que se abrem para a sua vocação, experimentam o que diz Santo Agostinho: “Tu me tocaste, e agora ardo no desejo de tua paz”.

 Santo Agostinho, rogai por nós para que saibamos dizer sim a cada dia à nossa vocação!